Meu diploma da Faculdade de Letras já estava perto de completar trinta anos. Resolvi ampliar meus conhecimentos, atualizar-me. Fui fazer uns cursos na Casa da Palavra. Entusiasmada com o ambiente literário, reescrevi um romance do qual guardava um rascunho havia anos. Envaidecida, mostrei-o ao professor de criação literária, o renomado Cláudio Willer, esperando elogios pela minha iniciativa.
- É um esqueleto. Carece de consistência - disse ele, seco.
- O senhor quer dizer “mais psicológico”?
- É. Falta consistência.
Que raio de consistência ele queria? Sentei-me diante do computador e comecei a redesenhar minha “obra-prima”, re-gerar (existe isso?) minha criança. Quando acabei, todo o sangue, a linfa, a pele, o recheio, o enchimento, o estofo, eu havia transferido para o meu livro. Estava vazia, liberta, limpa, lavada, branca. Só ossos.
Maria Angela Alvares Cacioli
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