quarta-feira, 9 de julho de 2014

9 DE JULHO - DIA DA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA


REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932

 

 

                                                        texto de Maria Angela Alvares Cacioli

 

 

     Foi no ano 32, corria o mês de maio, o dia era 23. O calor das vozes inflamava a Praça da República, no coração da cidade, espantando o frio daquela noite de outono. Os paulistas pediam eleições e uma nova Constituição num grito urgente de liberdade, de descentralização do poder. Armas sufocaram os gritos, calaram as vozes. E da multidão, a balas dispersada, na rua, tombados, quatro corpos restaram. Eram civis, anônimos estudantes. Mortos, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo ganharam notoriedade, viraram símbolo de movimento, transformaram-se em sigla – MMDC – e, no Obelisco Mausoléu do Parque Ibirapuera, em pedra foram imortalizados, seus nomes inscritos no Livro dos Heróis da Pátria.

     Foi no ano de 32, corria o mês de julho, o dia era 9. Explodiu a revolta, libertou-se o grito. Mobilizou-se o valente povo bandeirante conclamado à luta, à “doação de ouro para o bem de São Paulo”; e as fileiras de voluntários avolumaram-se e as jóias separaram-se dos dedos quatrocentões no aguerrido esforço de guerra contra as tropas federais. Luta árdua, desigual e solitária. Por quais meandros do caminho extraviou-se a ajuda externa prometida pelos outros Estados da União? Após três meses da maior guerra civil empreendida em território nacional, os paulistas renderam-se e choraram as centenas de vidas ceifadas de seus filhos combatentes.

     É o ano 14 do terceiro milênio. Corre o mês de julho, o dia é 9. Estamos a comemorar o Dia da Revolução Constitucionalista. Dizem que, fato inusitado, é uma comemoração dos vencidos. Vencidos?! Não! Aqueles bravos paulistas foram vencedores na medida exata de sua união e de sua garra na luta por seus ideais. Queriam uma Constituição para o Brasil porque um país sem Constituição é um país sem lei e está sujeito a toda sorte de desmandos. Lançaram um chamamento às consciências cívicas e patrióticas da Nação e deixaram um exemplo de coragem para as futuras gerações. Uma saudação, pois, àqueles valorosos vencedores de 1932!

 

 

*****

 

O texto acima e o poema de Guilherme de Almeida, abaixo, foram apresentados, em julho de 2005, no programa “MEMÓRIA”, de Ademir Médici, em canal televisivo da cidade, em homenagem à Revolução Constitucionalista, com gravação efetuada no Paço Municipal de Santo André (SP).

 

 

 

ORAÇÃO ANTE A ÚLTIMA TRINCHEIRA

 

                                                                      Guilherme de Almeida

 

(...) Esta é a trincheira que não se rendeu:

A que deu à terra o seu suor,

A que deu à terra sua lágrima,

A que deu à terra o seu sangue!

 

Esta é a trincheira que não se rendeu:

A que é nossa bandeira cravada no chão.

Pelo branco do nosso ideal.

Pelo negro do nosso luto.

Pelo vermelho do nosso coração!

 

A que atenta, nos vigia;

A que invicta, nos defende;

A que eterna, nos glorifica!

 

Esta é a trincheira que não se rendeu.

A que não transigiu,

A que não esqueceu,

A que não perdoou!

 

Esta é a trincheira que não se rendeu..."

 

 

 

Outros poemas alusivos à data:

 

 

AO HERÓI DESCONHECIDO

                                                        Oliveira Ribeiro Neto (julho/1932)

 

— Hás de voltar, meu filho! E não voltaste.
Pelo bem do país que tanto amaste
o teu corpo caiu, morreu teu passo.
De tua mocidade generosa
ficou somente a farda gloriosa
tinta de sangue. E o capacete e aço.

Tua mãe chora sempre a tua falta.
Árvore frágil para ser tão alta,
a inclemência de um raio te cortou
as promessas risonhas de fartura,
o desejo de glória ou de ventura,
o civismo sem par que te abrasou.

Repousa em paz; no coração materno
da terra de São Paulo, grande e eterno
no seu amor à gente idealista.
O nome teu? que importa! Um nome, passa;
Tú és, soldado, o apóstolo da raça,
o herói, o santo, o símbolo paulista.

 

 

SÃO PAULO

                                                     Rossini Camargo Guarnieri (1932)

 

Foi aqui neste solo fecundo,
que o primeiro dos gritos soou:
"Ou dareis liberdade a esta terra
de progresso, de força e labor,
ou vereis nos perigos da guerra
este povo provar seu valor!"

Hoje, enfim, te levantas gigante,
empunhando a metralha e o fuzil,
e arrebentas a algema infamante,
que, ainda ontem, prendia o Brasil.

Com teu sangue, fantástico atleta
de pujança e de garbo viril,
Escreveste na folha da História:
É SÃO PAULO QUEM GUARDA O BRASIL!

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