REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932
texto de Maria Angela Alvares Cacioli
Foi
no ano 32, corria o mês de maio, o dia era 23. O calor das vozes inflamava a
Praça da República, no coração da cidade, espantando o frio daquela noite de
outono. Os paulistas pediam eleições e uma nova Constituição num grito urgente
de liberdade, de descentralização do poder. Armas sufocaram os gritos, calaram
as vozes. E da multidão, a balas dispersada, na rua, tombados, quatro corpos
restaram. Eram civis, anônimos estudantes. Mortos, Martins, Miragaia, Dráusio e
Camargo ganharam notoriedade, viraram símbolo de movimento, transformaram-se em
sigla – MMDC – e, no Obelisco Mausoléu do Parque Ibirapuera, em pedra foram
imortalizados, seus nomes inscritos no Livro dos Heróis da Pátria.
Foi
no ano de 32, corria o mês de julho, o dia era 9. Explodiu a revolta,
libertou-se o grito. Mobilizou-se o valente povo bandeirante conclamado à luta,
à “doação de ouro para o bem de São Paulo”; e as fileiras de voluntários avolumaram-se
e as jóias separaram-se dos dedos quatrocentões no aguerrido esforço de guerra
contra as tropas federais. Luta árdua, desigual e solitária. Por quais meandros
do caminho extraviou-se a ajuda externa prometida pelos outros Estados da
União? Após três meses da maior guerra civil empreendida em território
nacional, os paulistas renderam-se e choraram as centenas de vidas ceifadas de
seus filhos combatentes.
É
o ano 14 do terceiro milênio. Corre o mês de julho, o dia é 9. Estamos a
comemorar o Dia da Revolução Constitucionalista. Dizem que, fato inusitado, é
uma comemoração dos vencidos. Vencidos?! Não! Aqueles bravos paulistas foram
vencedores na medida exata de sua união e de sua garra na luta por seus ideais.
Queriam uma Constituição para o Brasil porque um país sem Constituição é um
país sem lei e está sujeito a toda sorte de desmandos. Lançaram um chamamento
às consciências cívicas e patrióticas da Nação e deixaram um exemplo de coragem
para as futuras gerações. Uma saudação, pois, àqueles valorosos vencedores de 1932!
*****
O texto acima e o poema de Guilherme de Almeida, abaixo, foram apresentados,
em julho de 2005, no programa “MEMÓRIA”, de Ademir Médici, em canal televisivo da
cidade, em homenagem à Revolução Constitucionalista, com gravação efetuada no
Paço Municipal de Santo André (SP).
ORAÇÃO ANTE A ÚLTIMA
TRINCHEIRA
Guilherme de Almeida
(...)
Esta é a trincheira que não se rendeu:
A
que deu à terra o seu suor,
A
que deu à terra sua lágrima,
A
que deu à terra o seu sangue!
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
A
que é nossa bandeira cravada no chão.
Pelo
branco do nosso ideal.
Pelo
negro do nosso luto.
Pelo
vermelho do nosso coração!
A
que atenta, nos vigia;
A
que invicta, nos defende;
A
que eterna, nos glorifica!
Esta
é a trincheira que não se rendeu.
A
que não transigiu,
A
que não esqueceu,
A
que não perdoou!
Esta
é a trincheira que não se rendeu..."
Outros poemas alusivos
à data:
AO HERÓI DESCONHECIDO
Oliveira Ribeiro Neto (julho/1932)
— Hás de voltar, meu filho! E não
voltaste.
Pelo bem do país que tanto amaste
o teu corpo caiu, morreu teu passo.
De tua mocidade generosa
ficou somente a farda gloriosa
tinta de sangue. E o capacete e aço.
Pelo bem do país que tanto amaste
o teu corpo caiu, morreu teu passo.
De tua mocidade generosa
ficou somente a farda gloriosa
tinta de sangue. E o capacete e aço.
Tua
mãe chora sempre a tua falta.
Árvore frágil para ser tão alta,
a inclemência de um raio te cortou
as promessas risonhas de fartura,
o desejo de glória ou de ventura,
o civismo sem par que te abrasou.
Árvore frágil para ser tão alta,
a inclemência de um raio te cortou
as promessas risonhas de fartura,
o desejo de glória ou de ventura,
o civismo sem par que te abrasou.
Repousa
em paz; no coração materno
da terra de São Paulo, grande e eterno
no seu amor à gente idealista.
O nome teu? que importa! Um nome, passa;
Tú és, soldado, o apóstolo da raça,
o herói, o santo, o símbolo paulista.
da terra de São Paulo, grande e eterno
no seu amor à gente idealista.
O nome teu? que importa! Um nome, passa;
Tú és, soldado, o apóstolo da raça,
o herói, o santo, o símbolo paulista.
SÃO PAULO
Rossini Camargo Guarnieri (1932)
Foi
aqui neste solo fecundo,
que o primeiro dos gritos soou:
"Ou dareis liberdade a esta terra
de progresso, de força e labor,
ou vereis nos perigos da guerra
este povo provar seu valor!"
que o primeiro dos gritos soou:
"Ou dareis liberdade a esta terra
de progresso, de força e labor,
ou vereis nos perigos da guerra
este povo provar seu valor!"
Hoje,
enfim, te levantas gigante,
empunhando a metralha e o fuzil,
e arrebentas a algema infamante,
que, ainda ontem, prendia o Brasil.
empunhando a metralha e o fuzil,
e arrebentas a algema infamante,
que, ainda ontem, prendia o Brasil.
Com
teu sangue, fantástico atleta
de pujança e de garbo viril,
Escreveste na folha da História:
É SÃO PAULO QUEM GUARDA O BRASIL!
de pujança e de garbo viril,
Escreveste na folha da História:
É SÃO PAULO QUEM GUARDA O BRASIL!
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