sexta-feira, 6 de junho de 2014

ENCONTRO NO CÉU


Estou deitada no meu quarto, fazendo hora. Distraio-me com o movimento da tarde pelo recorte de vidro da minha janela.
Acho que vai haver um encontro de nuvens no céu. Só não sei aonde, porque elas passam ligeiras e leves em suas vestes ora densas, ora rendadas como damas a caminho do baile ─, e logo desaparecem para não perder a hora.
E o azul volta a habitar o céu, límpido e brilhante.
O vento sopra fraquinho e traz para dentro do meu quarto um cheiro de pastel frito. Que incoerência!
No terreno em que outrora existia uma casa em ruínas, as andorinhas voavam sobre o telhado esburacado e as verdes folhas de bananeiras. Agora elas deslocaram o lugar do seu voo e suas rasantes rápidas dão-se bem defronte à minha janela. Elas perderam o antigo espaço, mas eu ganhei um assento na primeira fila para ver um show diário de malabarismos que me traz sensação de liberdade: com suas asinhas esticadas, elas flutuam e parecem tão felizes!
E a legião de nuvens continua no seu andar apressado.
Eu ficaria aqui a tarde toda falando inclusive sobre o voo engraçado de uma mosquinha que insiste em dar voltas e mais voltas sobre a minha cama.
Mas a hora já passou. Levanto-me porque tenho que ir à sessão de terapia. Minha vida não é tão desembaraçada de problemas quanto a das nuvens, das andorinhas ou das moscas.
Chego perto da janela. Umas nuvens negras estão se aproximando. Se agirem, vão ser as desmancha-prazeres da tarde gostosa. Olho-as com desagrado e elas me devolvem o olhar com cenho franzido. Elas também devem ter seus problemas.
Deslizo o vidro sobre os trilhos. Subo no parapeito e alço voo como as andorinhas... 



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