quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A VIDA GRITANDO NOS CANTOS

 
 Caio Fernando Abreu
 

A vida grita nestas páginas

Co­letânea traz mais de 100 tex­tos de Caio Fer­nan­do Abreu
pu­bli­ca­dos no Ca­der­no 2 en­tre 1986 e 1996 e inédi­tos em li­vro


 A Vi­da Gri­tan­do nos Can­tos é uma reu­nião de­ mais de cem crôni­cas que o es­cri­tor gaúcho pu­bli­cou no Ca­der­no 2 (e que se man­ti­ve­ram inédi­tas em li­vro) de 1986 a ja­nei­ro de 1996 – um mês an­tes de mor­rer e dois anos de­pois de re­ce­ber a notícia de que era so­ro­po­si­ti­vo, a qual re­ve­lou em sua co­lu­na se­ma­nal.
E não é só is­so: na ca­ro­na da on­da pop em tor­no de­le, além do re­lançamen­to de sua obra está nos pla­nos uma ex­po­sição em Por­to Ale­gre de ob­je­tos ce­di­dos pe­los her­dei­ros (qua­tro irmãos). “Já tínha­mos pla­ne­ja­do os re­lançamen­tos pa­ra a in­clusão dos li­vros nas no­vas re­gras de or­to­gra­fia. Es­ta­mos ado­ran­do es­sa di­vul­gação es­pontânea”, con­ta a edi­to­ra res­ponsável, Ja­naína Sen­na. “Co­mo bom au­tor clássi­co, ele fa­la a lei­to­res de to­dos os tem­pos. É o que acon­te­ce com a Cla­ri­ce Lis­pec­tor, que também é mui­to ci­ta­da.” Ain­da es­te ano, na sequência de A Vi­da Gri­tan­do nos Can­tos, a No­va Fron­tei­ra repõe nas li­vra­ri­as Os Dragões Não Co­nhe­cem o Pa­raíso (1988) e Pe­que­nas Epi­fa­ni­as (1996). As no­vas ca­pas de­vem se­guir o espíri­to pop do no­vo cul­to a Caio F., ci­ta­do di­a­ri­a­men­te nas re­des so­ci­ais em fra­ses sol­tas por gen­te que pro­va­vel­men­te nun­ca leu seus con­tos, ro­man­ces e peças de te­a­tro.
A Ima­gem da vi­da (o im­por­tan­te, as ne­ces­si­da­des pri­mor­di­ais) gri­tan­do em meio aos afa­ze­res do co­ti­di­a­no saiu da crôni­ca Que­rem Aca­bar Co­mi­go, de 29/4/1987.
Ele se quei­xa da im­pos­si­bi­li­da­de de sair pa­ra ver o mun­do além da es­cri­va­ni­nha com a máqui­na de es­cre­ver. De es­cre­ver pa­ra vi­ver, e não o con­trário.
“An­do can­sa­do. Ho­je es­tou me per­mi­tin­do es­cre­ver so­bre es­se can­saço in­di­visível, so­bre mi­nha fal­ta de tem­po, so­bre a de­sor­dem que se ins­tau­rou em mi­nha vi­da. Por trás dis­so tu­do, o mais pe­ri­go­so es­prei­ta: a gran­de traição que es­tou co­me­ten­do, to­do dia, co­mi­go mes­mo.
Por­que es­cre­ven­do as­sim, pa­ra so­bre­vi­ver, não es­cre­vo o que me mantém vi­vo – ou­tras coi­sas que não es­tas.” Os efei­tos da apro­xi­mação da mor­te (ele tra­ba­lhou até mes­mo da ca­ma do hos­pi­tal) estão aqui e ali.  ‘‘(O jar­dim) mui­to so­freu es­te ano. De­pois do in­ver­no me­do­nho, co­me­cei a fi­car mal de saúde,o que cul­mi­nou em três ci­rur­gi­as de­zem­bro últi­mo (con­va­lesço, pa­reço Fri­da Kah­lo, mas ça mar­che bi­en) (…)Cu­ri­o­so: de to­das as mi­nhas flo­res, só as sem­pre-vi­vas so­bre­vi­ve­ram. For­tes, co­lo­ri­das, apa­ren­te­men­te in­des­tru­ti­vas” (…) Aos pou­cos, tu­do vol­ta à vi­da. Co­mo eu. Co­mo to­dos nós em 96, não?”, pu­bli­cou no der­ra­dei­ro 7/1/1996.
Pa­ra quem acom­pa­nha os lançamen­tos póstu­mos, o li­vro é uma con­ti­nuação de Pe­que­nas Epi­fa­ni­as, lançado seis me­ses de­pois da mor­te de Caio.Em tex­tos dis­pos­tos em or­dem cro­nológi­ca -o que per­mi­te ao lei­to­r acom­pa­nhar o de­sen­ca­de­a­men­to de seu pen­sa­men­to con­for­me o pas­sar das se­ma­nas, me­ses e anos -, estão re­flexões so­bre o co­ti­di­a­no, os fil­mes que via, os li­vros e os dis­cos que lhe fa­zi­am a ca­beça.
Os te­mas que mar­cam sua li­te­ra­tu­ra estão em li­nhas e en­tre­li­nhas: a so­lidão e as angústi­as no mun­do pós-mo­der­no, a se­xu­a­li­da­de em to­das as su­as pos­si­bi­li­da­des, a força do amor, a mor­te co­mo pre­sença cons­tan­te. Ele fa­la de Ana Cris­ti­na César, de Ca­zu­za, de Ca­e­ta­no Ve­lo­so, de John Len­non, dos ami­gos, de su­as ci­da­des (Por­to Ale­gre, São Pau­lo, Rio).
A apre­sen­tação é de Ita­lo Mo­ri­co­ni, pa­ra quem Caio, voz dos anos 70, 80 e 90, se co­nec­ta di­re­ta­men­te ao “jo­vem adul­to ur­ba­no bra­si­lei­ro an­te­na­do” e se­duz no­vas ge­rações por tra­zer questões uni­ver­sais à
sua es­cri­ta cla­ra e sensível. “Não à toa, fra­ses do au­tor se tor­na­ram uma fe­bre nas re­des so­ci­ais, nas quais, em 2011, uma no­va pos­ta­gem re­la­ci­o­na­da a seu no­me sur­gia em média a ca­da 15 se­gun­dos no Twit­ter e no Fa­ce­bo­ok”, diz Mo­ri­co­ni.
As crôni­cas fo­ram reu­ni­das por Li­a­na Fa­ri­as e La­ra Sou­to San­ta­na, du­as pes­qui­sa­do­ras apai­xo­na­das que, sem se co­nhe­cer, se de­di­ca­ram du­ran­te me­ses a vas­cu­lhá-las. Os es­forços então se jun­ta­ram. E elas per­ce­be­ram que se­ria in­te­res­san­te “dar ca­ra ao “Caio pop”".
“Mui­tos dos que mul­ti­pli­cam as fra­ses de­le na in­ter­net não sa­bem quem ele é. É im­pres­si­o­nan­te a quan­ti­da­de de pes­so­as que pen­sa que ele está vi­vo e que é o res­ponsável pe­la atu­a­li­zação dos per­fis nas re­des so­ci­ais”, afir­ma Li­a­na- tão dedi­ca­da que pre­si­de a As­so­ciação Ami­gos do Caio Fer­nan­do Abreu. “Por is­so, a ideia de fa­zer a ex­po­sição: pa­ra dar vi­si­bi­li­da­de à história e a obra de­le.” Ela já con­se­guiu peças de ves­tuário, pe­dras e cris­tais de que ele se cer­ca­va, pos­tais e car­tas en­de­reçados à família, li­vros com de­di­catóri­as, exem­pla­res de re­vis­tas nas quais tra­ba­lhou. A exi­bição, pen­sa­da pa­ra Por­to Ale­gre, de­pen­de ain­da de apoio fi­nan­cei­ro.

Ro­ber­ta Pen­na­fort / RIO                                      
                                                                            ESTADÃO - 26/08/2012
                                           

A VIDA GRITANDO NOS CANTOS       
Editora: Nova Fronteira
(248 págs., R$ 49,90) 
http://sergyovitro.blogspot.com.br/2012/08/a-vida-grita-nestas-paginas.html


sábado, 1 de setembro de 2012

RESSACA DE PALAVRAS

a palavra
é amiga
ama
sente
adoece
chora por ti
se entristece
ri contigo
te cativa
prende
e depois
cobra o preço
vampiriza
te vicia                                  
   
 Maria Angela Alvares Cacioli