terça-feira, 18 de dezembro de 2012

QUE PAPAI NOEL NÃO SE ESQUEÇA DE VOCÊ!

PAPAI NOEL EM PONTO-CRUZ

FELIZ NATAL!


A todos os meus amigos - com carinho especial aos seguidores do blog,
amantes de Literatura, aficcionados por Artesanato, apaixonados por Orquídeas - desejo um Natal abençoado e deixo uma singela mensagem:


                     TEATRO DA VIDA - ROTEIRO
                                                      Maria Angela Alvares Cacioli

Nome da peça:
Teatro da Vida
O cenário:
uma estrela
uma gruta
um jegue
uma junta de bois
A plateia:
pastores
gente humilde
O elenco:
uma família
Vestuário:
roupas gastas para os adultos
faixas para o bebê
Público-alvo:
homens de corações endurecidos
Tema:
a encenação do amor
Apresentações:
uma montagem
renovada a cada ano
Data:
dois mil e doze anos consecutivos
─ recorde de tempo em cartaz ─
Horário:
24 horas por dia
Preço:
Entrada franca

BULBOPHYLLUM LOBII

 
Em 2007, essa exótica orquídea floriu pela primeira vez e presenteou-me com duas flores.
Em dezembro de 2012, está carregada de doze  gloriosas flores!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

MENINA DE ENGENHO


Ah! menina Nelci
tua infância não vi passar
mas ouvindo aprendi
a história que vou contar

à sombra do juazeiro
construíste o teu lar
com boneca de sabugo
é que te punhas a brincar

os cabelos de ouro
faziam a espiga brilhar
não podias mesmo
deixar o encanto acabar

ossos secos bem lavados
na água da enxurrada
tornavam-te fazendeira
a dona d’uma boiada

banho bom era de açude
com cabaças p’ra boiar
ajudada pelo primo
é que aprendeste a nadar

o lento carro de boi
criava uma melodia
o som de porcos, cabritos, galinhas
ecoavam no teu dia

uma jovem contratada
veio te alfabetizar
mas depois foste à cidade
os estudos completar

nome de santo tinha a escola
- Jesus Maria José -
o professor era anão
e não aceitava banzé

de teu pai ocultou a verdade
de uma surra te livrou
quando com um soco acertaste
um rosto que roxo ficou

corrigir-te foi a promessa
para esquecer o ocorrido
ficou o mel da rapadura
e o lanche repartido

do leite ordenhado
aprendeste a tirar
manteiga e queijo de coalho
p’ra fazenda alimentar

herdaste do sertão a fibra
da mãe a letra bem firme
do pai lembras a bondade
quem te conhece confirme

sob protestos de todos
saíste da tua terra deixaste o teu lugar
mulher quase menina
p’ra um bom moço desposar

valeu a aventura
tiveste uma boa vida
geraste filhos e netos
longe da vila querida

hoje árvores da caatinga
imagens do campo em aquarelas
ainda enchem tua memória
das saudosas flores amarelas!

                                           
                         À minha amiga Maria Nelci Amaral de Brito

                                     que me contou a história de sua de sua  infância no interior
                                  de Pernambuco, de onde tirei inspiração para este poema


Observação:A predominância da cor amarela nas flores das plantas da caatinga  proporciona uma visão única de beleza em épocas de floração no Sertão do Nordeste. Entre as plantas que apresentam flores amarelas, destacam-se a Catingueira, o Sete-cascas, a Erva de São João e a Canafistula. O juazeiro produz frutos amarelados comestíveis, de gosto doce acidulado.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

HOMENAGEM EM PONTOS E VERSOS



23.10.2012 - BODAS DE ALGODÃO 
MARCELA E RENAN COMPLETAM DOIS ANOS DE CASAMENTO

Queridos,
que a vida a dois lhes seja leve como o algodão...



CASAMENTO É...


um entrelaçamento
de pontos
de cores
de sonhos

um congraçamento
de ideias
de esforços
de objetivos

um amadurecimento
de amizade
de proximidadede
 cumplicidade


um treinamento
de paciência
de compreensão
de doação

um alinhamento
de passado
de presente
de futuro

um juramento
de amor
de união
     de eternidade...
                                                                             Maria Angela Alvares Cacioli - 23.10.2010



Para o grande dia


também bordei o paletó do Sapoquê
com as iniciais dos noivos,  
  
A foto do casal, tirada no começo do namoro,
bordei em ponto-cruz;                     
  
 


 
e escrevi o pequeno poema,
acima transcrito.


  




   
 
    
    





A foto original
A mesa do salão de entrada da festa
 
Marcela e o Sapoquê





  


  


 





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PRECIOSIDADES QUE SE ENCONTRAM NA VIDA E NA MINHA ESTANTE - MÁRIO CHAMIE E LYGIA FAGUNDES TELLES



 
A originalidade de Mário Chamie é plural. Não se repete, tão diversa se apresenta. Imprevistos. Impossíveis. Sugere ionescamente absurdos..."          Gilberto Freyre


        Em maio de 1998, estivemos, Leandro e eu, no lançamento do livro de poesias CARAVANA CONTRÁRIA, do escritor MÁRIO CHAMIE. Trouxemos, com orgulho, um autógrafo do senhor simpático que era, na época, um professor muito querido pelo meu filho, na ESPM. Ficamos entristecidos com sua recente partida. 
(Acompanhe a Folha.com no Twitter - 03/07/2011 - Morreu aos 78 anos o poeta e ex-secretário de Cultura de São Paulo Mário Chamie.)

Para a escritora Lygia Fagundes Telles, ele foi um "grande poeta" muito original. "Foi meu colega na faculdade de direito do Largo de São Francisco. Tinha também uma personalidade muito polêmica, opiniões muito fortes", conta. (Folha.com no Twitter - 03/07/2011)


   ************************************************************

 















      Estava eu a cursar o segundo ano da Faculdade de Letras na Fundação Santo André, quando, em junho de 1974, tivemos a honra de receber a escritora LYGIA FAGUNDES TELLES para uma palestra, no auge de seus cinquenta e um anos: bonita, simpática e elegante. 
     Dois fatos marcantes, eu diria tragicômicos, aconteceram nesse dia. Em 2007 enviei, por e-mail, uma carta à Senhora Lygia, através de suas agentes, contando-os. Vai aqui transcrita a carta que nunca soube se ela leu:


CARTA A LYGIA FAGUNDES TELLES

                           Iniciada em 14.06.2005 – Terminada em 12.12.2007

Cara senhora Lygia,

Por favor, leia minha carta até o fim. Garanto que a senhora irá sorrir ou, quem sabe, até dar umas boas risadas com o que vou lhe contar.
Antes de mais nada, preciso parabenizá-la pelo merecido Prêmio Camões que a
senhora acaba de receber. Sou sua fã incondicional.
Bem, é necessário que eu também lhe conte que consegui seu endereço eletrônico escarafunchando na internet. Maravilha de instrumento! A senhora vê: consegui até encontrá-la. Garanto que não foi fácil; fiquei dias e dias entrando em tudo quanto é site onde aparecia o seu nome até que, de repente, quando eu já perdia as esperanças, ele surge escondidinho no meio de um monte de outras informações. Ah! vi até fotos da senhora menina, da senhora de beca, e depois – ô glória! – sendo empossada na Academia Brasileira de Letras. Lugar que lhe é de direito pela sua valorosa obra literária. Não é como umas certas pessoas que estão lá e não deviam. Bom, não vou nem entrar no mérito da questão.     
Onde eu estava mesmo? No começo desta carta. Posso dizer que estou escrevendo uma carta? Sei lá, parece coisa tão antiga escrever cartas. Hoje escreve-se e-mail e envia-se tudo pela rede. As cartas não têm mais textura, não têm mais perfume, não têm mais contato humano... É o preço da modernidade.
Voltando – nossa, já estou ficando tonta de tanto voltar –  A senhora sabe que já nos encontramos face a face há uns 33 anos (Cristo até teria tido tempo de nascer e morrer nesta terra em tal espaço de tempo!). Garanto que a senhora não vai se lembrar. Pudera! Quantos milhares de admiradores já não fizeram fila perante a sua afável figura mendigando um autógrafo?
Mas eu lembro daquela noite de junho de 1974 como se fosse ontem. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Santo André estava em polvorosa porque receberia a famosa Lygia Fagundes Telles em seu anfiteatro lotado de jovens estudantes. Eu era um deles ao lado da minha grande amiga Regina. Ambas havíamos comprado livros para receber a sua honrosa dedicatória. Combinamos de comprar títulos diferentes porque depois poderíamos ler os dois e assim economizaríamos um dinheirinho, tão suado quando se trabalha de dia para poder pagar os estudos, à noite. Assim, comprei “Ciranda de pedra” e a Regina, “Verão no aquário”.
A palestra foi muito interessante e eu a anotei toda em taquigrafia com duas vantagens: não perdi uma palavra sequer do que a senhora falou e ainda treinei para as aulas que estava tendo. Guardei aquelas páginas com todo carinho e quando fui encontrá-las, muitos anos mais tarde, constatei que não lembrava mais do código e acabei tendo como que uma preciosidade nas mãos, escrita em hieróglifos.
Uma pena perder suas palavras mas o importante é que não perdi a lembrança daquela noite mágica para mim. Finda a palestra, como de praxe, formou-se a fila para os autógrafos e estávamos lá, as duas amigas, prestes a encará-la, a fitar um ídolo nos olhos. Também como é de costume, a fila demorou a andar e o noivo da Regina veio buscá-la na Faculdade. Ele era meio invocado e ela tinha um medo danado dele. Engraçado, casaram e a situação continuou a mesma por vinte e cinco anos, quando então se divorciaram. Bom, perdoe-me a indiscrição mas acho que se, naquela noite, a Regina não tivesse saído da fila para ir embora antes que o noivo ficasse bravo com o atraso, os dois poderiam ter brigado, desmanchado o noivado e tido uma vida mais feliz, cada qual no seu canto.
Voltando à fila. - olha eu voltando de novo; parece vício! – Bom, a Regina, antes de sair, entregou-me seu livro para que eu pegasse o autógrafo nele. Depois de meia hora mais ou menos, chegou a minha vez. Entreguei-lhe o livro da Regina. A senhora olhou-me e perguntou com um sorriso gentil o meu nome. Fiquei extasiada. Era a primeira vez que eu pegava autógrafo de alguém e não sabia qual era o processo. Abrindo o livro da minha amiga, a senhora começou “Para Maria Angela....” e eu esbocei um “não” tão baixo, mas a senhora escutou e olhou-me, perguntando o que era. Não consegui dizer que o autógrafo era para a Maria Regina (éramos dos tempos das Marias) e simplesmente completei, sorrindo encabulada: “Nada, nada”. Fiquei tão confusa que passei-lhe o outro livro, aquele que havia comprado para mim, e a senhora perguntou-me: “Nome?” E eu repeti meu nome (afinal eu o havia adquirido para mim!).
Só quando saí do anfiteatro e recuperei o fôlego é que recuperei também a razão: minha amiga ficara sem autógrafo.  Ambos os livros estavam dedicados gentilmente a mim. Difícil foi explicar-lhe a situação e encarar sua decepção. O máximo que pude fazer foi uma dedicatória, embaixo da sua, oferecendo-lhe o livro que ela comprara e do qual eu roubara o autógrafo e que, por pura falta de idéia, nem a despesa reembolsei.
A culpa foi do noivo que veio buscá-la antes da hora. Foi também da senhora que me deixou embasbacada. Mas pelo menos tenho sempre uma boa história para contar do dia em que encontrei a grande Lygia Fagundes Telles. 

 
agentes da Lygia Fagundes Telles, em 2007:

portal literal:  valeska jabur zamboni - valeska@literal.com.br
www.agenciariff.com.br

Vou colocar aqui o endereço do blog da comunidade de Lygia Fagundes Telles, para quem tiver interesse de visitar:


Caio Fernando Abreu e o menino-poeta do conto de Mia Couto



“Ô João, ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis, e a minha saída (uma saída gostosa) tem sido essa: a literatura”

                                          (Caio Fernando Abreu em carta a João Silvério Trevisan)


Esta frase "conversa" com o menino que escrevia versos para desabafar no papel a sua angústia, não acham? 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O MENINO QUE ESCREVIA VERSOS - Mia Couto


"...Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, autoria do feito.
    - São meus versos, sim.
    O pai logo sentenciaria: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais...Pois o rapaz...se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?
...O pai...exigiu: então que fosse examinado.
...O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.
        Olhos baixos, o médico escutou tudo...Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:
    - Dói-te alguma coisa?
    - Dói-me a vida, doutor.
         O médico estranhou o miúdo...
         A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.
    Na semana seguinte...o médico taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.
    - Não continuas a escrever?
    - Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida - disse, apontando um novo caderninho - quase a meio.
     O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave...carecia internamento urgente...Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica...
    Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico...ele senta num recanto do quarto onde está internado o menino...Quem passa pode escutar a voz pausada...que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:
  - Não pare, meu filho. Continue lendo..."


COUTO, Mia.  O fio das missangas. São Paulo. Cia.das Letras. 2011 
Trecho do conto  O menino que escrevia versos
A editora optou por manter a grafia do português de Moçambique, terra do escritor.